Foi há
muito tempo, mas já houve uma tentativa de se defender o Rio de Janeiro com um
muro, como aconteceu em muitas cidades medievais da Europa. O projeto, que
durou três séculos, nunca foi muito à frente, principalmente por discordâncias
e falta de continuidade de um governo para outro, um problema que, aliás, até
hoje atrapalha as obras longas no país.
A história
das idas e vindas da construção do muro, cujos limites iam até a altura da
atual Rua Uruguaiana, é um dos capítulos do livro Fragmentos do Rio Antigo, escrito pelo jornalista André Luis Mansur
e pelo médico Ronaldo Morais. A dupla faz uma sessão de autógrafos em novo
lançamento nesta terça-feira (21/5), às
19h, na Livraria Folha Seca, na Rua do Ouvidor, 37, Centro, Rio de Janeiro.
O livro é
repleto de fotos de importantes monumentos históricos do Rio tiradas por
Ronaldo, principalmente nos anos 80. Uma dela é a Fazenda de Nossa Senhora da
Conceição, na Pavuna, demolida na década de 80 e que abrigava uma picota, a
única descoberta até hoje na cidade. A picota era um instrumento de tortura dos
escravos e que substituía o pelourinho nas áreas mais afastadas do centro da
cidade.
Outra
fazenda importante era a de Colubandê, em São Gonçalo, e que abrigou muitos
judeus perseguidos pela Inquisição. Nas fotos ela aparece bastante degradada,
mas hoje está muito bem preservada e oferecendo bárias atividades de lazer para
os moradores da região. Outro monumento que aparece bastante degradado no livro
e hoje está restaurado é a Casa de Banhos de D. João VI, no Caju, que hoje é o
Museu da Limpeza Urbana da Comlurb. A Casa de Banhos era o local oferecido ao
príncipe-regente para ele tomar banho na praia do Caju por recomendação médica,
já que havia sido picado por um carrapato na Fazenda de Santa Cruz, na antiga
zona rural da cidade. Com a medida, D. João inaugurou um hábito hoje totalmente
associado ao lazer do carioca: o banho de mar.
O livro
traz também, entre outros monumentos importantes, a estação de trem de Marechal
Hermes, de 1912, a
Fundição Cavina, em Lins de Vasconcelos, de onde saiu, por exemplo, a estátua
de Tiradentes, que fica em frente à Assembleia Legislativa. A fundição Cavina
hoje está abandonada, assim como o Reservatório do Morro da Viúva, entre
Flamengo e Botafogo.
HISTÓRIAS CURIOSAS
Além dos
monumentos, o livro traz histórias curiosas e divertidas, como o primeiro
acidente de automóvel da cidade, provocado pelo poeta Olavo Bilac, que bateu
numa árvore com o carro do abolicionista José do Patrocínio. Outro caso que
mereceu destaque no livro é o de Bárbara dos Prazeres, que morava perto do Arco
do Teles, na atual Praça XV, e que, segundo reza a lenda, utilizava métodos bem
sinistros em seus rituais. A história também, esta bem real, do assassinato da
esposa de Fernando Carneiro Leão, amante de Carlota Joaquina, a mandante do
crime, mostra como as relações de poder muitas vezes atropelaram os trâmites
judiciais.
Já a lenda
da Pedra da Gávea, de que o suposto rosto que aparece na formação rochosa,
seria de um monarca fenício, gera até hoje argumentos bem curiosos, até porque
as inscrições que aparecem numa parte da rocha até hoje não foram bem
explicadas.
“Sabe-se
que nem todo brasileiro é apaixonado por carro, mas José do Patrocínio o era,
até porque o seu era o único da cidade. E sua desolação foi imensa, pois seu
carro foi a primeira “perda total” do trânsito no Rio. Quem não ficou triste,
com certeza, foi o povo carioca, ao pensar que ao invés de um tronco de árvore
poderia existir um pedestre no meio do caminho”.